A comunidade católica de Adamantina iniciou nesta terça-feira (2), no Centro da cidade, uma mobilização, por meio de um abaixo-assinado, para reivindicar a permanência do padre Wilson Ramos na Paróquia de Santo Antônio.
Segundo Franciele Spina, de 22 anos, participante do movimento, desde que chegou para assumir a paróquia, há aproximadamente um ano e cinco meses, o padre recebe ofensas racistas de algumas pessoas por ser negro e, por conta disso, o bispo da Diocese de MarÃlia, Dom Luiz Antonio Cipolini, quer mudá-lo de cidade.
"Só hoje [2], já recolhemos três mil assinaturas. A mobilização "Fica, Padre Wilson" continuará até a quarta-feira que vem [10], sempre no Centro, das 9h às 16h. Além do ponto fixo, há pessoas passando com livros pelos bairros também. Pretendemos recolher aproximadamente 20 mil assinaturas até a semana que vem", ressaltou Franciele ao iFronteira.
'Divisão interna'
Por meio de nota, o bispo da Diocese de MarÃlia, Dom Luiz Antonio Cipolini, se manifestou sobre a transferência do sacerdote. A explicação começou com uma passagem bÃblica e terminou com o esclarecimento.
Confira abaixo a Ãntegra do pronunciamento feito pelo bispo.
"'Se um reino estiver dividido contra si mesmo, não poderá subsistir. Se uma casa se dividir contra si mesma, igualmente, não conseguirá manter-se firme' (Mc 3,24).
Caros Irmãos e Irmãs
Que a paz de Jesus Cristo esteja presente em seu coração e na sua famÃlia!
Na manhã do dia 28 de novembro, mais exatamente à s 10h30, na Cúria Diocesana, estive reunido com o Pe. Wilson Luis Ramos, com o Cônego João Carlos Batista, Vigário Geral da Diocese e com o Pe. MaurÃcio Pereira Sevilha, Chanceler. Procurei esclarecer ao Pe. Wilson sobre o resultado do Relatório da Audiência com a Paróquia Santo Antônio de Pádua de Adamantina, ocorrido no dia 14 de outubro das 08h15 à s 16h45 na Casa Pastoral Dom Osvaldo Giuntini, na presença do Pe. Orandi da Silva, Vigário Episcopal da Região Pastoral II e do Pe. Marcos Cesário da Silva, membro do Conselho de PresbÃteros da Diocese. Apresentei ao Pe. Wilson o resultado da Audiência e também vários e-mails e mensagens que me foram enviados. Este resultado apresenta uma Paróquia dividida, com "grave prejuÃzo ou perturbação à comunidade eclesial" (Código de Direito Canônico, Cânone 1741). Diante desta realidade, orientei o Pe. Wilson para que entregasse a Paróquia, no que Ele, gozando de sua liberdade e consciência, a entregou. Espero que esta decisão contribua para que se estabeleça entre nós o Ano da Paz, que deverá ser inaugurado no próximo dia 30 de novembro, por iniciativa da CNBB. Não consigo enxergar, nesta situação, nem vencedores e nem vencidos, apenas pessoas que amam a Jesus Cristo e à sua Igreja e querem trabalhar pelo crescimento do Reino de Deus. Confesso que tenho recebido e recebi várias mensagens e testemunhos pró e contra o trabalho do Pe. Wilson, o que vem confirmando a divisão interna da Paróquia. Tenho rezado e pretendo continuar rezando para que, pela intercessão do Glorioso Santo Antônio, possamos Caminhar Juntos e Evangelizar.
A todos concedo a minha bênção".
'Eu desejo ficar'
O padre Wilson Luis Ramos explicou ao iFronteira, na tarde desta terça-feira (2), a sua versão sobre a história envolvendo a transferência e revelou que foi pressionado a entregar a paróquia.
"Existe um grupo de pessoas insatisfeitas na paróquia que não aceitaram a minha chegada. Elas entraram em contato com o bispo e conversavam quase sempre com ele. O que aconteceu foi que o bispo as escutou e disse que eu estava dividindo a paróquia e isso não é verdade. A própria movimentação é uma forma de reforçar que isso não é verdade", disse o sacerdote.
De acordo com Ramos, no inÃcio houve um preconceito muito grande por parte de alguns fiéis da paróquia. "Em cima da igreja, há um galo de bronze e esse grupo chegou a sugerir que ele fosse tirado para colocarem um urubu no lugar. Foi a partir daà que começou todo alvoroço", contou ao iFronteira.
"A nota diz que eu aceitei em liberdade e consciência, mas a gente vai sendo pressionado, pressionado, pressionado, que uma hora você precisa ceder, diante de tanta insistência. Isso não é uma escolha minha. Eu queria ficar, eu desejo ficar, não tenho nenhum motivo para sair", revelou Ramos ao iFronteira.
Sobre a manifestação, por meio do abaixo-assinado realizado pela comunidade católica, o sacerdote avalia como um ato de carinho e reconhecimento de seu trabalho.
"Agradeço de coração, isso é uma maneira de expressar a confiança e o carinho que eles têm por mim. � uma coisa muito bonita. Apesar de toda essa confusão, estou recebendo uma prova de amor e de respeito e isso para mim é muito gratificante, é o reconhecimento de todo um trabalho", declarou o padre.
"Eu acredito que o principal, nessa hora, seria o diálogo. � muito mais evangélico sentarmos e conversarmos, ao invés de ficar nessa guerra toda", desabafou o sacerdote ao iFronteira.